sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lula deixa um rastro de ódio, pouco importa que seja o seu sucessor

 


Pouco importa quem vença as eleições, Lula deixa ao sucessor uma herança política um tanto maldita. E isso se deve à sua atuação irresponsável no processo eleitoral. Assistimos a uma disputa em que um dos lados acha que tudo é lícito, menos perder. Daí o vale-tudo.
Pensem um pouco: segundo as pesquisas, o PT pode estar até 12 pontos na frente nos votos totais. Se for assim, é uma vantagem é tanto — se acredito nisso, nas condições de hoje, é outra coisa, mas é fato que esses levantamentos balizam comportamentos etc. Ora, o PT deveria ser o principal agente de paz no confronto eleitoral. No entanto, Lula é o primeiro a se pintar para a guerra. E isso vem lá do primeiro turno.
Meteu-se na campanha de cabeça. Quando percebeu que sua candidata estava mesmo correndo risco, passou a distribuir caneladas e cotoveladas e começou a gritar: “Jogo sujo! Jogo sujo!”, numa tática para tentar deslegitimar o adversário. A imprensa nada séria que o governo financia fez coro. A gritaria contaminou até a séria.
O PT, assim, deixa claro que, caso Serra venha a se eleger presidente, sua vida não será fácil. As corporações de ofício, as guildas petistas que hoje vivem do que conseguem arrancar do estado, prometem criar o máximo de dificuldades. É o que o PT sempre faz na oposição: busca sabotar o governo de turno.
Ocorre, e isso está bastante claro a esta altura, que um eventual governo Dilma também não será fácil. Lula vai deixando um rastro de rancor por onde passa, tanto o rancor que ele secreta como aquele que ele desperta com sua ação destrambelhada. Caso a petista se eleja, esse “malaise” acabará se voltando contra a “presidenta”, que não é famosa por seu jogo de cintura. Lula, o tutor, espera no entanto ser o Putin da Medvedev de calças. Ocorre que temos uma democracia mais avançada do que a Rússia.
Lula é tão autocentrado que conseguiu emprestar certa aura de artificialidade a seu sucessor, qualquer que seja ele, do governo ou da oposição. É como se a sucessão não fosse o processo natural numa democracia. Quem quer que vença, haverá um lado se sentindo sabotado. E ele é o único responsável por isso. Confunde os 80% de aprovação que lhe conferem os institutos de pesquisa com endosso para o vale-tudo. E está errado. O Babalorixá de Banânia sempre fez aquele seu discursozinho vigarista contra “dona zelite”, o que ficava na esfera da cafonice retórica esquerdofrênica. Desta feita, no entanto, foi além: deixou claro que, se necessário, parte mesmo para o pau, para o confronto de rua, na premissa de que, numa eleição, qualquer coisa é legítima, menos perder. E isso pode ser tudo, menos democracia.
Por Reinaldo Azevedo

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