quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Polícia Federal diz que jornalista pagou para violar sigilo de tucano

Amaury Ribeiro Jr. pagou a despachante para obter dados, informou PF.
Polícia afirma que 'não foi comprovada' utilização do material na campanha.

Do G1, em Brasília e São Paulo *

imprimir Investigação da Polícia Federal aponta que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. encomendou a quebra dos sigilos fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, da filha de José Serra, Verônica, do genro dele, Alexandre Bourgeois, e de outros tucanos entre setembro e outubro de 2009, apontam informações divulgadas pelo jornal "Folha de S.Paulo" e pela Agência Estado.

De acordo com a PF, Ribeiro Jr. disse em depoimento que pagou pelas informações ao despachante Dirceu Rodrigues Garcia, que trabalha em São Paulo, mas não informou os valores. “Ele falou nos pagamentos, mas não revelou valores. Quem fala em valores é o Dirceu”, afirmou o delegado Moretti.

Ribeiro Jr., então repórter do jornal "O Estado de Minas", decidiu fazer a investigação, segundo relatou a PF, depois de descobrir que o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estaria supostamente à frente de um grupo de espionagem a serviço do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), a fim de obter informações comprometedoras sobre a vida do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG).

Em nota divulgada nesta tarde, Itagiba afirma que ele foi um dos que pediu investigação da PF sobre o suposto dossiê que estaria sendo realizado por pessoas ligadas à pré-campanha de Dilma. Na nota, o deputado nega ter feito qualquer espionagem.

“Não sou araponga. Quando fui delegado, fazia investigação em inquérito aberto, não espionagem, para pôr na cadeia criminosos do calibre desses sujeitos que formam essa camarilha inscrustrada no PT”, afirmou Itagiba.

No relato à PF, Ribeiro Jr. disse que saiu do jornal no final de 2009, mas deixou um relatório completo de toda a apuração, levando uma cópia consigo para futura publicação de um livro no seu computador pessoal.

Na versão dele, segundo os delegados, uma área de inteligência do PT teria tomado conhecimento do conteúdo da investigação e o convidou para trabalhar na equipe da pré-campanha de Dilma.

No ano passado, de acordo com a PF, a demanda de Ribeiro Jr. foi repassada pelo despachante Dirceu ao office-boy Ademir Cabral, que pediu ajuda do contador Antonio Carlos Atella.

A PF informou que, de acordo com a investigação, Atella usou uma procuração falsa para violar os sigilos fiscais de Verônica Serra e seu marido, Alexandre Bourgeois, numa agência da Receita Federal em Santo André.

Ainda de acordo com a PF, depois de deixar o jornal, Ribeiro Jr. participou de uma reunião em abril deste ano com integrantes da pré-campanha de Dilma.

Durante as investigações, a PF interrogou 37 suspeitos e indiciou sete envolvidos por diferentes crimes, como violação de sigilo, falsificação de documento público, falsificação de selo e sinal público de tabelião, uso de documento falso, corrupção ativa e passiva.

O relatório do caso tem 50 depoimentos e ainda pode ser ampliado, disse o delegado Moretti. As diligências da PF para apurar a quebra de sigilo foram realizadas em diferentes regiões do país, com maior concentração em Brasília, Minas Gerais e São Paulo.

Nota
Pouco antes da entrevista coletiva, a Polícia Federal divulgou no site do órgão na internet uma nota segundo a qual "a investigação identificou que a quebra de sigilo ocorreu entre setembro e outubro de 2009 e envolveu servidores da Receita Federal, despachantes e clientes que encomendavam os dados, entre eles um jornalista".

A nota acrescenta que "as provas colhidas apontam que o jornalista utilizou os serviços de levantamento de informações de empresas e pessoas físicas desde o final de 2008 no interesse de investigações próprias" e que "os dados violados foram utilizados para a confecção de relatórios, mas não foi comprovada sua utilização em campanha política". Leia a íntegra da nota.

Grupo da pré-campanha
Entre setembro e outubro de 2009, quando a PF aponta que Amaury Ribeiro Jr. encomendou os dados, o jornalista trabalhava no jornal "Estado de Minas".

Em 2010, o jornalista participou de um grupo ligado à pré-campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. Em abril deste ano, enquanto fazia parte desse grupo, ele participou de uma reunião em que foi discutida a elaboração de um suposto dossiê contra tucanos.

O G1 não conseguiu contato com Amaury nesta quarta-feira. Em junho, ele disse ao G1 que foi convidado para participar da reunião.

Na ocasião, ele negou que o convite do jornalista Luiz Lanzetta, que comandava o setor de comunicação da pré-campanha, tenha sido para produzir o suposto dossiê. Disse que o objetivo era identificar a fonte de vazamentos de informações dentro de um dos QGs da pré-campanha.

Em junho, Ribeiro Jr. também afirmara que possuía relatório de apuração sobre o processo de privatizações dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), e que esses dados foram furtados de seu computador enquanto estava hospedado em um flat de Brasília, hospedagem paga, segundo ele, pelo PT.

Ele sugeriu que a subtração dos dados tenha sido consequência da disputa de poder na pré-campanha de Dilma entre as alas paulista e mineira do PT, esta encabeçada pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, que coordenava a pré-campanha.

Procurações falsas
No ano passado, segundo a investigação da PF, a encomenda de Ribeiro Jr. foi repassada pelo despachante Dirceu Rodrigues Garcia ao office-boy Ademir Cabral, que pediu ajuda do contador Antonio Carlos Atella. Este usou uma procuração falsa para violar os sigilos fiscais de Verônica e seu marido, Alexandre, numa agência da Receita Federal em Santo André (SP).

Entre setembro e outubro de 2009, o jornal "Estado de Minas" teria custeado as viagens de Ribeiro Jr. a São Paulo para buscar os documentos.

Ele disse à PF que decidiu fazer a investigação depois de descobrir que o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estaria comandando um grupo de espionagem a serviço do presidenciável José Serra (PSDB) para devassar a vida do ex-governador de Minas e senador eleito, Aécio Neves (PSDB), que à época disputava com Serra a indicação do PSDB à Presidência.

Ribeiro Jr. afirmou que deixou o jornal no fim de 2009, mas deixou um relatório completo de toda a apuração, levando uma cópia consigo para futura publicação de um livro. Na sua versão à PF, que difere das afirmações feitas em junho deste ano ao G1, a inteligência do PT teria tomado conhecimento do conteúdo de sua investigação e o convidou para trabalhar na equipe de campanha de Dilma.

Presente ao encontro, ocorrido num restaurante em Brasília, o delegado Onésimo de Souza afirmou à PF que foi chamado para cuidar da segurança do escritório do jornalista Luiz Lanzetta, responsável até então pela coordenação de comunicação da pré-campanha de Dilma. Lanzetta deixou a campanha em junho, após a revelação do caso.

Amaury Ribeiro Jr. afirmou que durante o período em que ficou em Brasília, em abril deste ano, negociando com a equipe da pré-campanha de Dilma, a despesa do flat onde ficou hospedado foi paga por "uma pessoa do PT", ligada à candidatura governista.

A PF já fechou praticamente todo o caso. Os pontos ainda em aberto são a origem dos R$ 12 mil usados no pagamento pelos dados fiscais e o suposto responsável no PT pela hospedagem do jornalista em Brasília.

* Com informações da Agência Estado

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